21.8.08

Regresso ao futuro

Os amanhãs que cantam nunca chegaram a abrir a boca. Como é sabido, em vez de cantigas vieram lamentos. Pareceram infindáveis até um certo ponto e depois cristalizaram-se na desilusão.
Aos amanhãs que cantam só se pode regressar, como quem afaga uma memória; nunca encontrá-los no futuro. Estarão condenados a ser mais um eterno retorno. E voltamos, apenas em visita e sem planos.
Quando o fazemos enlevados pela música a experiência torna-se das mais sublimes. É isso que o Francisco Amaral proporciona nesta Íntima Fracção.

O ano é 1998. Em Portugal, vivem-se tempos de optimismo. A Exposição Universal de Lisboa vai acontecer, revelando uma face renovada, enxuta, ao Mundo. O barril de petróleo custa 20 dólares. O clima é de apaziguamento e tudo parece correr de feição.
Nas madrugadas de segunda-feira da antiga TSF, a música era luminosa. Um traço azul riscando o céu. A esperança dava na esterofonia, entrava pelos ouvidos e fazia sonhar. It was a very good year, diria Sinatra.

Nesse ano entrei para a universidade, obviamente sem saber que quando de lá saísse o país passaria por crises e mais crises. Um pântano, chegou a chamar-se. A situação agravou-se em 2003, depois de vários sinais a partir de 2001. Em 2005, bateu-se novamente no fundo. Hoje é o Mundo inteiro que ameaça com mais crises.
Foi há 10 anos, mas 10 anos - sabemos hoje - são muitos tempos. Resta a música que o Francisco alinhou nas medidas certas. O que resta dos nossos amores.